Portal Turístico de Taió recebe melhorias

As pessoas que passam pelo Portal Turístico Prefeito Horst Gerhard Purnhagen podem perceber algumas novidades na estrutura, isso porque a obra recebeu melhorias durante este mês de dezembro. Entre essas melhorias estão a pintura, iluminação, a instalação dos letreiros com as inscrições “BEM-VINDOS” e “EU AMO TAIÓ”. Outra novidade que embeleza e desperta a atenção da população, foi a colocação das réplicas que foram feitas através de um trabalho artístico dos fósseis Heteropecten Catharinae, encontrados no município.

 

Segundo Marina Feliciano Peicher, diretora do MUPAH (Museu Paleontológico, Arqueológico e Histórico Prefeito Bertoldo Jacobsen), “As conchas colocadas no portal embelezam e valorizam a riqueza fossilífera encontrada em nosso município. Os fósseis encontrados em nossa região se destacam em dois aspectos que os tornam especiais: o seu tamanho que ultrapassa os cinco centímetros, e a quantidade encontrada por rocha. Os fósseis que estão resguardados no museu MUPAH estão datados entre 250 à 280 milhões de anos antes do presente”, frisa. Marina comenta ainda que o objetivo é fazer com que o fóssil, Heteropecten Catharinae se torne identidade da cidade, sendo que o município de Taió está entre os municípios mais importantes do Brasil em termos de localização do Patrimônio cultural paleontológico.

 

Inaugurado em 23 de dezembro de 2016, o Portal Turístico Prefeito Horst Gerhard Purnhagen foi construído através de um convênio feito com o Ministério do Turismo que liberou um total de R$243.750,00, com contra partida da prefeitura no valor de R$ 40.850,00, totalizando um investimento de R$ 284.600,00.

 

Importância do Heteropecten Catharinae para a comunidade de Taió (Texto: Prof. Tânia Lindner Dutra)

 

A assembleia fossilífera de Taió (composta principalmente por restos de moluscos bivalvos, braquiópodes e equinodermados) foi descoberta em 1928 pelo Dr. Anibal Alves Bastos, engenheiro de Minas e geológo. Desde este achado chamou a atenção dos paleontólogos, por sua semelhança com os bivalvos da Fauna de Eurydesma, em Nova Gales do Sul, Austrália. Por determinação do Dr. Euzébio de Oliveira, geólogo e diretor do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, a coleção de fósseis foi remetida à Cowper Reed, paleontólogo de Cambridge, Inglaterra, no ano de 1929. Após observação do material, Reed (1930) realizou uma monografia descrevendo os moluscos da coleção de Taió, apontando suas semelhanças com as faunas australianas, e suas singularidades como uma fauna impar dentro do registro gonduânico da América do Sul, posteriormente publicados e abordados no trabalho de Oliveira (1930).

 

Duas décadas depois, Kegel & Costa (1951) fizeram a primeira revisão taxonômica de parte do material fóssil encontrado nas cercânias do município de Taió, demonstrando uma variedade de formas de uma única espécie e criaram a Familia Heteropectinidae para reunir as formas de bivalvos identificados em Taió. Ao sintetizar o conhecimento das faunas no chamado “sistema gonduânico” – ocorrentes na Bacia do Paraná desde o intervalo interglacial (Carbonífero) até os depósitos das Camadas Taió (Permiano Inferior) – Beurlen (1954) reconheceu a predominância e a abundancia dos Heteropectinidae sobre os demais táxons presentes em assembleias fósseis de mares glaciais e pós-glaciais (a exemplo os fósseis encontrados em Taió). A menor abundância desses moluscos em faunas de mares mais setentrionais do período permocarbonífero fez com que Beurlen (1954) assumisse que esses gêneros gonduânicos poderiam ser usados como indicadores paleoambientais (salinidade e temperatura).

 

Situado dentro da Formação Rio Bonito os fósseis encontrados em Taió marcam um registro superior aos glaciais encontrados, por exemplo, em Trombudo Central e redondezas (Beurlen, 1954). Com base na caracterização da associação faunística, Beurlen (1954) interpretou que o mar Taió representaria uma nova subida do nível do mar e sua invasão na Bacia do Paraná, não sendo de forma alguma um prosseguimento dos mares estabelecidos anteriormente ou como uma fase terminal da transgressão pós-glacial.

 

Em 1964, o Prof. Dr. Rocha-Campos (USP) reconheceu a presença de novos grupos, como equinodermos e braquiópodes, na composição da paleofauna de Taió e fez uma extensa revisão taxonômica que resultou na proposição de novos gêneros de moluscos bivalves, gastrópodes, braquiópodes e estrelas do mar, e no estabelecimento da “Fauna de Taió”. Além de considerar a importância da região, realizando aí seu trabalho de Doutorado, em 1964, Rocha Campos apresentou ainda, ao longo das três décadas que sucederam aos estudos iniciais, novas contribuições à taxonomia dos moluscos (Rocha-Campos, 1963, 1967, 1970; Rocha-Campos & Simões, 1993), sua tafonomia (Rocha-Campos & Simões, 1993) e sobre a paleoecologia da assembleia fossilífera de Taió (Rocha-Campos, 1970), conferindo à assembleia uma natureza marinha.

 

Estudos recentes reativaram o interesse pelas camadas de Taió, graças as atividades de campo realizadas na região por pesquisadores do Programa de Pós Graduação da Universidade do Vale do Rio do Sinos – UNISINOS. Por cerca de dois anos e com o apoio da Prefeitura Municipal de Taió, daí resultou um sem número de estudos e contribuições, na forma de trabalhos de Conclusão de Curso da Graduação e Mestrado em Geologia (Schmidt-Neto, 2014; Schimdt Neto et al., 2014), com enfoque nos depósitos marinhos contendo conchas de H. catharinae. Como parte da equipe Schmidt Neto, já realizando suas atividades de Doutorado, retornou por três ocasiões à Taió para reconfirmar dados e analisar as amostras que foram tombadas no Museu Histórico-Paleontológio da cidade. Entre os importantes resultados destas pesquisas, talvez o mais realizador foi permitir a criação deste Museu, local de guarda e divulgação deste importante acervo paleontológico. Hoje fazem parte das equipes de estudiosos do rico material fóssil, professores-pesquisadores de distintas instituição acadêmicas, tais como a Universidade do Contestado Campus de Mafra (UNC), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade de São Paulo (USP).

 

Fósseis de plantas, também provenientes dos depósitos de Taió, identificados em níveis basais da Formação Rio Bonito, foram estudados a partir de amostras encontradas nas terras do Sr. Bruno Peiker e no Clube Caça e Tiro, em trabalho conjunto com pesquisadores da UFRGS, coordenado pela Dra. Tânia L. Dutra, do PPGEO-UNISINOS, e que resultou no trabalho de Mestrado de Daiane Boardman e publicações daí decorrentes (Boardman, 2006; Boardman et al., 2005; 2006; 2007).

 

Além destes todos estes aspectos que atestam a importância científica e cultural das associações fósseis de Taió, é importante lembrar que o nome escolhido por Reed (1930) para batizar a nova espécie (H. catharinae), remete a sua até o momento exclusividade de ocorrência no Estado de Santa Catarina. Tenho profunda confiança de que a comunidade de Taió concederá o devido prestigio a esta ocorrência fóssil exclusiva, que pode ser fonte atrativa para dar continuidade às pesquisas e incentivar o desenvolvimento cultural e turístico do município de Taió.